
O Trauma (fraturas) em pacientes pediátricos (crianças e adolescentes entre 0 e 19 anos) infelizmente são extremamente comuns. Afinal, crianças e jovens ativos ao mesmo tempo que são mais saudáveis do que os sedentários, também estão muito mais expostos a machucados e fraturas.
Uma pesquisa feita nos EUA descobriu que, anualmente, uma em cada três crianças é vítima de algum traumatismo. Desses, por volta de 80% dos traumas são contusões, principalmente por conta de acidentes com veículos, bicicletas e quedas. De acordo com o Ministério da Saúde brasileiro, um terço dos admitidos em pronto-socorros são pacientes pediátricos.
Tipos de Fraturas
Primeiramente vamos ver os tipos de fraturas mais comuns de ocorrerem em pacientes jovens. Diferente de traumas em adultos, os jovens possuem placas de crescimento em seus ossos, que podem ser afetadas pela fratura.

-Fratura fisária infantil (placa de crescimento): como pode ser visto na imagem acima, essas fraturas ocorrem nas extremidades dos ossos, onde estão encontradas as placas de crescimento.
Dependendo do tipo de fratura, a sequela pode fazer com que o osso venha a crescer entortado ou até mesmo parar de crescer totalmente. O nível de gravidade e o risco ao crescimento é maior à medida que as fraturas progridem do tipo I ao tipo V:
Tipo 1: R = Reto (a linha de fratura atravessa toda a placa de crescimento)
Tipo 2: A = Acima (a linha da fratura se estende acima ou para longe da placa de crescimento)
Tipo 3: A = Abaixo (a linha da fratura se estende abaixo da placa de crescimento)
Tipo 4: A = Através (a linha de fratura se estende através da metáfise, da placa de crescimento e da epífise)
Tipo 5: = Imprensada (a placa de crescimento foi esmagada)
Nas fraturas do tipo 1 e 2, em geral somente uma redução fechada (imobilização) é o suficiente para a consolidação óssea sem maiores problemas. Nos casos do tipo 3 e 4, costuma ser necessário redução aberta com fixação interna (RAFI) por meio de parafusos biodegradáveis.
Já a fratura tipo 5 é a mais complexa e com possibilidades de dar sequelas, mas felizmente é também a mais rara de se ocorrer. Elas precisam ser tratados por um ortopedista pediátrico pois costumam resultar em anormalidades no crescimento ósseo.
-Fratura do tipo Torus: também chamada de fratura de indentação, é um tipo de fratura incompleta que ocorre quando há uma compressão em um do lado dos ossos, de maneira que não há traço de fratura visível em um raio-x. Dessa maneira o osso apresenta um aspecto de “amassado”. Esse tipo de fratura é bastante comum no punho.
-Fratura em “galho verde”: é um tipo de fratura incompleta, quando há somente uma rachadura, ou fratura parcial, um lascado ou “trincado” em um lado do osso, porém o outro permanece intacto.

-Deformidade Plástica: outro tipo de fratura considerada incompleta,ocorre quando o osso “enverga” ou “empena” mas não chega a haver uma fratura propriamente.
-Fratura completa: nesse caso os ossos estão totalmente separados pela fratura, de lado a lado, atingindo inteiramente a estrutura óssea. Esse tipo de fratura pode ocorrer tanto em crianças como jovens e adultos independente da faixa etária.
Fraturas mais comuns
Vamos agora falar um pouco sobre as fraturas mais comuns de ocorerr em crianças e adolescentes. O foco serão os traumas ocorridos em práticas esportivas, brincadeiras e atividades ao ar livre em geral.
– Fratura do Antebraço: são as fraturas mais comuns em crianças, incluindo também as fraturas de punho.O antebraço (parte do membro superior localizada entre o cotovelo e o punho) é composto por dois ossos, o rádio e a ulna.
As fraturas que acometem os ossos do antebraço são frequentes em todas as faixas etárias, de crianças a idosos vítimas de quedas, ou ainda, resultantes de traumas de maior energia, principalmente em jovens.
No caso de crianças, um tratamento não cirúrgico com gesso ou talas de imobilização costuma ser o mais comum. À medida que as crianças envelhecem e se tornam adolescentes e adultos jovens, o osso perde essa capacidade de adaptação, tolerando menos desvio entre os fragmentos ósseos, necessitando eventualmente de tratamento cirúrgico.
As regiões mais frequentemente afetadas nas crianças são as fraturas do rádio na região do punho, muitas vezes afetando a placa de crescimento do osso.
– Supracondiliana do úmero: o segundo tipo de fraturas mais comuns em crianças, cerca de 85% das fraturas do cotovelo na criança ocorrem na parte distal do úmero, e, dessas, de 55 a 75% são supracondilares.
Essas fraturas ocorrem no úmero, próximo ao cotovelo, por trauma direto ou indireto, de baixa energia, como quedas ao solo, e muitas vezes vem acompanhada de outras fraturas ou até mesmo fraturas expostas e cominuição.
Por conta da região ocorrida, elas podem acarretar complicações e sequelas como lesões nos vasos e nervos, consolidação viciosa e deformidades ósseas. Em geral esse tipo de fratura necessita intervenção cirúrgica com o uso de fixadores.

– Fratura de punho: outra fratura muito comum, que tem um potencial maior de complexidade pois pode haver também luxações e lesões de partes moles associadas a região.
Porém, na maioria dos pacientes apresenta características suficientes para se indicar o tratamento conservador com somente imobilizações, principalmente no caso de crianças.
Em casos de necessidade de cirurgia, pode ser realizada com a colocação de placas e parafusos ou a fixação com com fios de aço ou titânio. Cada um com suas indicações, vantagens e desvantagens.
– Fratura de Clavícula: mais um exemplo de fraturanos membros superiores que são as mais comuns em jovens e crianças. A clavícula é o osso que liga o esterno (peito) com a escápula ou omoplata (ombro).
Essa fratura costuma acontecer como resultado de queda ou traumas diretos. É muito muito comum de ocorrer em atletas, principalmente em ciclistas, e skatistas e em menor número em praticantes de artes marciais.
Seu tratamento, em casos que não há nenhum ou pouco desvio, é feito pela imobilização através do uso de tipóia. É um tratamento longo que dura seis a doze semanas, com uso de medicamento para a dor e fisioterapia para recuperar a mobilidade e força.
Em casos mais raros e de maior gravidade é necessária a intervenção cirúrgica que vai utilizar hastes ou placas e parafusos para auxiliar na consolidação da fratura.
– Fratura de dedos: tanto as falanges dos pés quanto as das mãos são bastante suscetíveis a fratura em crianças e jovens, muitas vezes relacionadas a práticas esportivas com bola ou artes marciais.
Em ambos os casos, o membro precisa ser imobilizado, para que haja uma consolidação correta e não ocorram deformidades ou até mesmo perda de movimento. Fraturas nos dedos das mão podem ser tratadas imobilizando o dedo por enfaixamento com um dos dedos adjacentes.
Quando ocorre nos dedos do pé, se faz necessário o uso de um sapato ortopédico ou bota imobilizadora (também conhecida como robofoot). A recuperação costuma durar entre 4 e 6 semanas.

– Fratura de Fêmur: é o maior e mais resistente osso do corpo e sua fratura é decorrente muitas vezes de queda de grande altura, ou outros traumas de alta energia.
Essa é uma fratura bastante incapacitante e muito perigosa, pois está associada a uma alta taxa de mortalidade em decorrência de embolia gordurosa, tromboembolismo pulmonar, lesões associadas de outros órgãos e choque hemorrágico que podem ocorrer devido ao trauma.
Nos pacientes pediátricos, principalmente bebês até os 2 anos de idade, são muito associadas a casos de maus tratos. Aproximadamente 80% das fraturas do fêmur em bebês de colo (que ainda não aprenderam a andar), são decorrentes de maus-tratos.
A grande maioria das fraturas do fêmur devem ser tratadas de forma cirúrgica, pois a limitação, incapacidade, tempo até recuperação e risco de sequelas são elevados.
Fraturas que acontecem próximas à região do joelho geralmente são tratadas com placas e parafusos, sempre procurando reconstruir a anatomia da articulação e alinhamento do membro.
Fraturas que ocorrem na região da diáfise geralmente são tratadas com hastes intramedulares (bloqueadas para adultos e flexíveis para crianças – quando não indicado o gesso).
Fraturas que ocorrem na região do quadril podem ser tratadas com uma variedade maior de técnicas, que incluem: placas e parafusos, hastes intramedulares e artroplastia do quadril.
– Fratura de tornozelo: trauma bastante comum de se ocorrer em jovens praticantes de esporte, principalmente nos que praticam futebol, skate ou esportes que envolvem saltos como vôlei e basquete.
Os pés são suscetíveis a traumas diretos com fraturas dos dedos, ao chutar algum objeto involuntariamente, ou suscetíveis a traumas torcionais, levando a fraturas principalmente na região do tornozelo e dos metatarsos.
Fraturas estáveis ou com poucos desvios são tratadas com imobilização. Porém, quando há alguma incongruência ou instabilidade na articulação, se faz necessário a intervenção cirpurgica.
Lesões associadas, como de pele, tendões, nervos, vasos e ligamentos também necessitam de cirurgia. Em geral são utilizadas placas, parafusos e fios de aço para se estabilizar o osso.
– Fratura de Tíbia e Fíbula: fraturas na perna são comuns de se ocorrer, sendo as da tíbia a mais comum, ficando em terceiro lugar entre as mais frequentes em crianças e adolescentes. As crianças pequenas podem desenvolver fraturas por quedas e lesões de torção.
Felizmente fraturas em crianças também costumam evoluir bem com o tratamento conservador, em geral não havendo a necessidade de intervenção cirúrgica.
O tratamento é feito com imobilização gessada que engloba a coxa até o pé, visando garantir estabilidade suficiente para evitar um desvio inadequado da fratura.
Conclusão
Em caso de acidentes ou quedas com crianças e adolescentes, é sempre imprescindível levá-los ao pronto-socorros, pois jovens ativos estão sempre propensos a se machucarem.
Uma avaliação com exame físico complementado por imagens é fundamental para descobrir a causa do problema, se houve fratura ou somente uma luxação ou torção. Em caso de fratura é preciso analisar qual o tipo que ocorreu para poder tratá-la corretamente.
Se ficou com alguma dúvida, gostaria de fazer alguma sugestão, ou alguma colocação, escreva abaixo nos comentários. Agora se necessita agendar uma consulta, atendo como ortopedista em São Paulo (Itaim Bibi e Higienópolis) e Alphaville (Barueri/Santana de Parnaíba) e por telemedicina.
REFERÊNCIAS: